quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Profanação do Solo Sagrado

Para mim, este foi e será, para sempre, um solo Sagrado. Foi nele que caminhei nos primeiros anos; nele conheci algumas das pessoas mais importantes da minha vida. Cada centímetro deste solo está impregnado pela energia daqueles que o fizeram, realmente Sagrado. O saber, o conhecer, o confiar. Ainda que por ele, hoje, andem aqueles que não fazem parte de sua verdadeira essência, sei que ele está guardado e cuidado. As bocas vem e vão. As idéias passam, sendo substituídas a cada momento. Alguns se julgam no direito de profaná-lo com  palavras carregadas de preconceito, atitudes regadas pela mediocridade, pela falta de compaixão. Quanto à estes, nos resta a pena, pois carregam a ignorância sobre o solo do conhecimento. Mas sei que outros o amam e se alimentam de sua essência. Abrem suas mentes e o sentem como algo maior, muito além das pequenas idéias que, por vezes o dominam. Ontem, sei que ele se orgulhou por alguns e sentiu-se envergonhado por outros. Mas este solo sabe a diferença entre pena e compaixão. Por isso ele se mantém Sagrado.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
 
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.

Fernando Pessoa, 1934

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

"Cuori" em sépia, coração em cores...





Hoje eu voltei à infância. Não à minha, mas à infância de meus pais e avós. Estive por lá, caminhando pelas ruas, cheias de crianças correndo, jogando bola, pega-pega, amarelinha... O mais estranho é que tudo estava em sépia! Olhava para as casas, janelas floridas, um bonde passando, normalistas de uniforme e livros nas mãos. Tudo em sépia. Foi inevitável imaginar seus sonhos de criança, pois a inocência pairava no ar. Aquele ar em sépia, imune ao mundo moderno, do trânsito irritante, da poluição, do stress. O mundo de hoje, cheio de cores, que mais cedo que pensamos, se transformará no mundo em sépia dos meus filhos, ou netos...
Deixe-me olhar os Ipês floridos da minha terra, no topo do meu mundo. Mar de montanhas, cobertas de ferro, carregadas de história e tradições. Contraste do vermelho-laranja da terra, com o azul profundo do céu e com as flores, voando no ar, cobrindo de tapetes amarelos o chão. Respiro este ar, enquanto as sementes das paineiras fazem sua dança etérea. Imagino meus bisavós aqui chegando, de um mundo tão distante. Os olhos curiosos, os planos e sonhos, hoje tão distantes. Vejo, através do que sinto, o impacto ao vislumbrarem a serra vermelha que nos cerca, definindo os contornos de quem somos. Quero aproveitar cada momento desta viagem ao passado, que aos poucos se colore vivamente, como que com hidrocor.
 








"Oriundi" no sagrado solo das Minas Gerais.